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segunda-feira, agosto 30, 2010

Assista a uma entrevista exclusiva com Maria Magdalena e Jesus Cristo





Com Barrabás como protagonista, José Roberto Torero faz versão pop do Novo Testamento


Renato Lemos*

O escritor José Roberto Torero / Leonardo Aversa

RIO - Ladrão, assassino, rebelde e salteador. Depois de ler os quatro evangelhos, José Roberto Torero voltou nas páginas e passou o marcador de texto em cima dos adjetivos grudados ao nome de Barrabás. Até então, ele estava na dúvida sobre quem seria o protagonista da sua versão para o Novo Testamento. Pensou em Maria Madalena, em Judas e até em Jesus Cristo, mas achou todos óbvios demais. Barrabás - um homem sobre quem sabia-se muito pouco além dos tais adjetivos - não era nada óbvio. Barrabás era o cara.

- Ele era mais amado que Jesus! Quando o povo teve que escolher, escolheu Barrabás - diz o escritor, que trabalhou em dupla com Marcus Aurelius Pimenta, seu parceiro em mais de dez projetos literários. - O bom de um personagem assim, com tão pouca informação, é que se pode criar toda a história dele. Os coadjuvantes são os melhores narradores de uma história.

Ele era mais amado que Jesus! Quando o povo teve que escolher, escolheu Barrabás

Torero tem uma queda pelos coadjuvantes. Foi assim com seu livro de maior sucesso, "O Chalaça", que narrava a história do Brasil Império na visão de um obscuro conselheiro de Pedro I. Cosme Fernandes, o degradado que chega escondido em uma das caravelas de Pedro Álvares Cabral, era o protagonista de "Terra Papagalli". "Os vermes" era narrado por um verme, claro. E até "Os cabeças de bagre também merecem o paraíso", seleção de crônicas e biografias inventadas, deixava os craques de lado e falava de coadjuvantes em um time de futebol. "O Evangelho de Barrabás", que está sendo lançado pela editora Objetiva, vai mais ou menos pelo mesmo caminho.

O livro, é bom que se diga logo, não é para ser levado a sério. Os autores narram a história de Barrabás desde seu nascimento - também fruto de uma concepção imaculada, ainda que menos idílica - até a crucificação de Jesus. Eles levaram três anos e meio e escreveram 17 versões. O texto junta referências bíblicas (o "Canto dos cânticos", por exemplo, é transformado em uma cantada amorosa), expressões da época, informações de enciclopédia, Padre Antônio Vieira e muito humor.

'O evangelho de Barrabás', de José Roberto Torero e Marcus Aurelius Pimenta / Divulgação

- Eu nunca tinha lido o Evangelho e descobri que é uma leitura maravilhosa. No primeiro não há alusão à virgindade de Maria e nem Cristo ressuscita - diz Torero, que vive em São Paulo, mas esteve de passagem pelo Rio na semana passada, quando conversou com o GLOBO sobre o livro.

Torero e Marcus Aurelius, ambos jornalistas, misturam personagens reais e fictícios, descritos em falsos perfis. Assim, Barrabás, após perder os pais (uns tais de José e Maria) no massacre de Genesaré (um episódio verdadeiro), será criado por Atronges (um ladrão que realmente existiu) e um bando de malucos que parecem tirados de um filme dos Trapalhões.

A pesquisa que sustenta a narrativa dá de lambuja ao leitor informações geográficas e religiosas. Torero conta que as reuniões de criação - em que o mais difícil é convencer as respectivas mulheres a ficarem de fora - são muito divertidas. Os dois não têm escrúpulos em mexer nos textos um do outro, sempre que humor e ritmo exigem. Além das fontes formais, trabalham com a memória afetiva e um monte de referências pop.

- Se tivesse que comparar o livro a um filme, seria "A vida de Brian", do Monty Python - diz Torero, que é roteirista de filmes como "Pequeno dicionário amoroso" e de programas de TV como "Retrato falado".

Logo que saiu da faculdade, Torero foi trabalhar na "Mens Sana", revista católica bancada pelo Frei Albino Aresi, um religioso crente nos poderes paranormais. Torero fazia revisão, diagramava, desenhava quadrinhos e escrevia artigos em nome do frei. Era um ghost writer, ainda que o Frei Aresi jamais admitisse a existência de um. Ele foi o contato mais íntimo de Torero com a Igreja desde o batismo.

- Aos 15 anos, passei a duvidar de tudo. Aos 20, virei ateu - diz o autor, ansioso com a repercussão do livro. - Acho democrático: será capaz de desagradar igualmente a católicos e judeus (o vídeo promocional já faz barulho na internet).

Marcus é filho de protestantes e capaz de citar passagens da Bíblia de cabeça. Já Torero foi batizado, mas não fez Primeira Comunhão. Sua mãe já foi católica, já foi mística, não tem medo de umbanda e agora é seguidora do guru indiano Sai Baba. Nada que influenciasse o filho. Em 47 anos de vida, a única religião que merece a devoção de Torero é o Santos Futebol Clube:

- Olha o Neymar, cara... No Neymar eu acredito.

* Especial para O GLOBO

Fonte O GLOBO

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